Imutar



Depois de um tempo morando em outro estado, sempre que volto a Belém percebo algumas mudanças na cidade. Algumas são pequenas e quase insignificantes, enquanto outras não passam despercebidas. A pior delas, com certeza, é ver que a violência e o medo estão, profundamente, entranhados na vida do paraense.

É esquisito ver que o espaço que abrigou o antigo bar e restaurante HG8 deu lugar a uma agência da caixa econômica. É estranho ver que algumas paradas de ônibus deixaram de existir, que ruas mudaram o sentido, que novas obras inauguraram e outras podem durar longos anos até sua conclusão. Lojas que antes existiram, agora exibem uma faixa de aluga-se. As mudanças ocorreram até na minha antiga faculdade que agora tem um novo campus, para os acadêmico de direito.

No entanto a maior mudança ocorreu dentro de casa, no cômodo que durante muitos anos foi meu refúgio particular, meu quarto. Antigamente papéis, livros e material escolar misturavam-se em meio a bagunça da mesinha de estudos feita de vidro, enquanto a briga por espaço da prateleira de madeira era entre as pelúcias e outras bugingangas. O guarda-roupa era um genuíno labirinto de roupas espalhadas. Era uma verdadeira bagunça organizada!

Hoje o quarto tem uma cara nova, as paredes outrora em tons de lilás e roxo agora são uma mistura de tons em azul claro e laranja. A pelúcia está escondida, longe dos olhos daquelas que permanecem na casa. As fotos continuam no quarto, mas encontraram seu lugar dentro do antigo baú, e os livros vivem protegidos em sacos plásticos no mezanino. Quase nada daquilo que eu deixei permaneceu no quarto, restou duas dúzias de roupas confortáveis e os móveis vazios que agora só acumulam poeira, não há mais quase nada meu lá.

Aquela sensação de aconchego e conforto não existe mais, pelo menos não do mesmo jeito. No lugar ficou um sentimento nostálgico seguido de um leve desconforto causado pela impessoalidade que o quarto assumiu. Quando troquei a cidade das mangueiras pela da garoa não esperava que algo assim poderia acontecer, mas já que aconteceu confesso que a sensação de não pertencimento a sua terra natal é, no mínimo, agridoce.



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